Sobre Cibercultura - livro do Pierre Levy

Cibercultura, inclusão e exclusão digitais

Cibercultura, inclusão e exclusão digitais

por Mirian Amaral -
Número de respostas: 0

CIBERCULTRA E INCLUSÃO/EXCLUSÃO DIGITAIS

Outro ponto que coloco em discussão, relacionado ainda à questão cultural, diz respeito aos processos de inclusão/exclusão digitais.

Bohadana, Nazário e Montandon (2008) em artigo recente, resultante de uma pesquisa, afirmam que, , a maior interação que os jovens estudantes moradores de comunidades exercitam resume-se à autointeração, mediante um jogar solitário, durante longo tempo, na busca do prazer proporcionado pelos jogos, pouco se mobilizando para construir novos laços ou aprofundar os já existentes (apesar de dizerem que as lan houses são espaços promotores de socialização). Nesse sentido, as relações sociais dos grupos são superficiais, e os princípios da interatividade, representados pelos processos de bidirecionalidade e dialogicidade, que determinam o mais comunicacional, não se fazem presentes.

Acrescente-se a isso, a afirmação de Rodrigo Baggio, em matéria publicada no jornal O Globo, em 2007, de que apesar de o Brasil ser campeão em horas navegadas na Internet, a maioria dos brasileiros desconhece o potencial da sociedade digital, na medida em que se consome mais do que produz e difunde conteúdos, desperdiçando aprendizados que contribuiriam para repensar os problemas do País.

Não se pode negar a relevância das tecnologias digitais para a geração e a disseminação de conhecimentos, ainda que poucos o façam. No entanto, como expressa o autor “[...] Estamos distantes, ainda, de uma verdadeira cultura digital; o computador não está incorporado ao ambiente escolar, doméstico e empresarial brasileiro e nem é utilizado para fins de reflexão e formação de uma inteligência coletiva”, ressaltando que a apropriação das tecnologias digitais devem ser feitas com responsabilidade, discernimento e sentido social.

Lemos (2003) argumenta que o clique generalizado possibilita a ação imediata, o conhecimento simultâneo e complexo, e a participação ativa nos diversos fóruns sociais). A esse respeito, vale enfatizar que a aquisição do conhecimento pressupõe a compreensão de todas as dimensões da realidade, captando e expressando essa totalidade, de forma cada vez mais ampla e integral, como afirma Moran (1994).

Nessa perspectiva e, considerando o fato de não haver mídia totalmente democrática e universal, e de que a construção de conhecimentos requer, além da conexão, o desenvolvimento de competências relacionadas a habilidades de ler, compreender, interpretar, relacionar, analisar, sintetizar e aplicar, entre outras; ou seja, acessar o objeto de todos os pontos de vista, por todos os caminhos, integrando-os da forma mais rica, não seria essa “sociedade planetária da informação e do conhecimento, cantada em verso e em prosa por Lévy, encorajadora da criação de mecanismos de exclusão?

[  ] s

BOHADANA, E. D.; NAZARIO, H. A.; MONTANDON, M..Reflexões Inicias sobre Lan House. 6º e-TIC. Rio de Janeiro: UNESA, 2008. 

LEMOS, A.. Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa época. In: André Lemos; Paulo Cunha (Orgs.). Olhares sobre a cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003.

MORAN, J. M.. Interferências dos meios de comunicação no nosso conhecimento. In: Revista INTERCOM. Jul./ dez. 1994, v. 17, nº 2.