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Wiki do grupo 3 (autores: Aline, Cristiane, Miriam e Heloisa)

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Modificado: 15 abril 2010, 16:29 PM   Usuário: Mirian Amaral  → MA

Cibercultura

A globalização de mercados tem desempenhado um papel estratégico na organização sociopolítica e econômica dos países. No entanto, o que os processos e práticas põem em jogo não são apenas os deslocamentos do capital e as inovações tecnológicas, mas profundas transformações na cultura cotidiana; nos modos de estar juntos, conviver e estabelecer relações sociais; nas formas de construir e narrar identidades; e na reconfiguração das muitas culturas que convivem.

Entendida, de uma forma abrangente, como ‘a tomada de consciência do mundo’, esse fenômeno constitui processo irreversível, sustentado pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação - TIC, que fomentam outros vínculos sociais entre as pessoas, grupos e nações, alterando conceitos de tempo e espaço.

Considerando que o homem se realiza como ser humano na cultura e pela cultura, através de seu aparelho biológico – corpo-cérebro, que lhe permite observar, agir, saber, aprender, sentir e comunicar-se; homem e cultura definem-se pelas relações que estabelecem; ou seja, interagem entre si, como partes de um só movimento, um único fluxo, de forma, dinâmica e ininterrupta.

Apesar da banalização que vem sofrendo o termo cultura ao longo dos anos, o entendimento de seu significado torna-se fundamental para se compreender a relevância da cibercultura nesse contexto. Canclini (2005, p. 45) resumiu seus estudos sobre cultura em quatro vertentes:

(a) Cultura como uma instância em que cada grupo organiza sua identidade , mas que na sociedade globalizada, com a ruptura de fronteiras, em escala local e até planetária, permite aos indivíduos se comunicarem com outros grupos, e produzirem, disseminarem e consumirem outras culturas, no âmbito da interculturalidade. Nesse contexto, tais interações têm efeitos conceituais diferenciados sobre as noções de cultura, podendo desagregar ou (re) organizar as identidades possíveis.

(b) Cultura como uma instância simbólica da produção e reprodução da sociedade é mais que lazer ou entretenimento, pois abrange a identificação e incorporação de bens simbólicos e materiais da sociedade na formação e na realização dos indivíduos. A cultura comporta uma dimensão da totalidade e das diferenças.

(c) Cultura como uma instância de conformação do consenso e da hegemonia; ou seja, da configuração da cultura política e também da legitimidade , que consiste em recursos simbólicos e modos de organização intimamente ligados aos modos de se auto-representar e representar o outro nas relações de diferenças e desigualdades, camuflando lutas de poder (reais ou latentes).

(d) Cultura como dramatização eufemizada dos conflitos sociais , própria das representações, das teatralizações, artes plásticas, cinema, esportes, canções. A eufemização dos conflitos ocorre em tempos e de formas diversas em todas as classes sociais.

Assim, de acordo com o autor, a definição tradicional e sociossemiótica de cultura como processo de produção, circulação e consumo da significação na vida social, concebida para cada sociedade e com pretensões de validade universal, não engloba o que constitui cada cultura pela sua diferença e interação com outras (interculturalidade). A globalização da ordem mercantil e dos avanços tecnológicos que caracteriza a atualidade não homogeneíza o mundo, dadas as diferenças culturais (universalização sem totalidade). No dizer de Lyotard (apud MIRANDA; MENDONÇA, 2006, p. 69), “o saber pós-moderno é ambivalente. Ele é ao mesmo tempo um novo instrumento de poder e uma abertura para as diferenças”.

Assim, falar de cultura é falar de linguagem. Por meio dela construímos nossa visão de mundo, mediante um conjunto de códigos e representações. Para Lévy (2001), línguas, linguagens e sistemas de signos são instrumentos cognitivos; e nossa inteligência possui uma dimensão coletiva, porque somos seres da linguagem.

As novas formas de comunicação, relacionadas com a linguagem digital, constituem, portanto, a grande transformação presente no processo de produção da existência humana. Possibilitadas pelo ciberespaço, que surge da interconexão mundial dos computadores (web) – e se configura como espaço de construção do conhecimento coletivo, ganham uma dimensão socioplanetária, no qual tecnologias digitais não significam apenas ciência e máquina, mas principalmente tecnologia social e organizativa, que compreende diversos formatos midiáticos, tais como imagens, textos, vídeos, sons, entre outros, que transitam em diferentes suportes, e abriga um conjunto de seres humanos com suas informações, conhecimentos, valores, práticas, costumes, pensamentos, que navegam e alimentam esse universo, fazendo florescer uma nova cultura – a cibercultura.

Nessa perspectiva, a cibercultura não pode ser considerada como o resultado do impacto das redes digitais sobre a cultura, mas fruto dessa sinergia, que se constitui a cultura das redes. Esse processo se inicia não apenas com a informatização da sociedade e o aparecimento dos computadores pessoais, mas com a transição de um computador individual, desconectado e projetado para um sujeito racional, para uma interface em rede, no ciberespaço, que potencializa a criação, a produção coletiva, a democratização e possibilidade de acesso a informações e a culturas dos mais variados lugares, tempos e grupos.

Mas , em que consiste a cibercultura?

LEVY (2005, p. 17), define cibercultura como um “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço", que transmuta o conceito de cultura, inventando outra forma de fazer emergir a presença do virtual do humano, frente a si mesmo, e não pela imposição da unidade de sentido, criando,ainda, uma alternativa local, em contraponto à mídia de massa.

Com seu caráter globalizante, inventa um universal sem totalidade, que permite ao indivíduo, através da comunicação com outros indivíduos, exercitar uma humanidade comum, e se relacionar moralmente com eles. Mas vale aqui ressaltar que, dado que o homem é um ser cultural, que se comporta com base em leis, normas, tradições, costumes e valores, socialmente construídos, nesse espaço cultural aberto, sem controle de conteúdo, em que se entrecruzam raças, credos, etnias, etc, num compartilhamento instantâneo de informações, é muito difícil encontrar padrões universais de pensamentos e ações. Ao imprimir uma dinâmica comunicativa própria, a linguagem digital incorpora o conjunto de informações à carga cognitiva, tornando indissociável a relação entre cultura, linguagem e cognição.

Para Lemos (2003), a cibercultura é a cultura contemporânea, marcada pelas tecnologias digitais. De acordo com o autor, a possibilidade de se gerar e disseminar conhecimentos, mediante a conexão generalizada, do tudo em rede, inicialmente fixa e, agora, cada vez mais móvel, além de ressaltar, a um só tempo, a ubiqüidade e a instantaneidade, faz florescer novas formas de subjetividade, corporificando esse ser da linguagem, favorecendo o diálogo e desmitificando o sujeito do iluminismo - aquele que é dotado da capacidade da razão, permanecendo essencialmente o mesmo, e colocando no centro 'o ser da provisoriedade', em permanente transformação.

Nessa perspectiva, a conexão é preferível ao isolamento, a inteligência é coletiva, a comunicação é recíproca, interativa e os interlocutores são atores, para além do indivíduo, pois,

quando deixamos de manter a consciência individual no centro, descobrimos uma nova paisagem cognitiva, mais rica. Em particular, o papel das interfaces e das conexões de todos os tipos adquire uma importância fundamental” (LÉVY, 1999, p.173 ).

Lemos (idem) ressalta, ainda, que o clique generalizado possibilita a ação imediata, o conhecimento simultâneo e complexo e a participação ativa nos diversos fóruns sociais. Esse fenômeno torna-se evidente pela busca efetiva da conexão social, através de e-mails, listas, blogs, webcams, twitters, num sentimento de religação entre as pessoas, e produz, rapidamente, eco na sociedade local e planetária.

Três leis fundamentam a cibercultura, segundo Lemos (2006): a liberação do pólo da emissão, o princípio de conexão em rede e a reconfiguração de formatos midiáticos e práticas sociais. Tais fundamentos são consequência do potencial das tecnologias digitais para recompor e nortear os processos de remixagem contemporâneos (conjunto e têm como corolário uma mudança social na vivência de espaço e tempo. Por remixagem entende-se o conjunto de práticas sociais e comunicacionais de combinações, recombinações, colagens, cut-up de informação a partir das tecnologias digitais. Qualquer pessoa pode sozinha ou coletivamente compartilhar, produzir e se apropriar de informações, em tempo real, disponíveis sob diversos formatos e mídias, em qualquer lugar, e alterar, adicionar e recombinar com pedaços de informações criados por outros.

O ciberespaço possibilita, então, a constituição de uma cultura na qual se inverte a lógica da mídia de massa, que funciona apenas a partir de uma relação de um para muitos, com clara distinção entre produtores e receptores da informação, cabendo a quem recebe apenas ler ou assistir aquilo que algum produtor acredita que seja do seu interesse. Com a liberação do pólo de emissão, a cibercultura põe em xeque o modelo clássico da informação: “emissor e receptor mudam respectivamente de papel e de status, quando a mensagem se apresenta como conteúdos manipuláveis e não mais como emissão” (SILVA, 2003, p. 53). Aqui qualquer um pode ser além de consumidor, produtor da informação -emissor, criando, dessa forma, espaço para a interatividade.

Para Silva (2001) interatividade é “a abertura para mais e mais comunicação, mais e mais trocas, mais e mais participação”. Constitui-se no não linear, no ato de colaboração, é sentido de poder, é permutabilidade e é a possibilidade de o indivíduo falar, ouvir, argumentar, criticar; ou seja, estar conscientemente disponível para mais comunicação. O autor afirma que participar é intervir na mensagem como cocriação da emissão e da recepção e que o mundo das interfaces representa o espaço propício à interatividade, pois permite a fusão sujeito-objeto (obra). Nele, o usuário tem liberdade de escolha, navega livremente, faz permutas, estabelece conexões, seleciona e utiliza informações de seu interesse, em tempo real.

As tecnologias móveis e a cibercultura podem ser usadas não apenas para trazer atividades educativas para fora da sala de aula, mas para a criação de novas relações entre as redes sociais e a educação; a produção de conhecimentos e a escola. Lévy (2005) assinala que o crescimento do ciberespaço é resultado de um movimento internacional de jovens ávidos por experimentar coletivamente formas de comunicação diferentes. Articular um discurso multimidiático e produzir coletivamente parecem ser habilidades adquiridas nesses novos ambientes.

Lévy (2005) assinala que o crescimento do ciberespaço é resultado de um movimento internacional de jovens ávidos por experimentar coletivamente formas de comunicação diferentes, constituindo o local apropriado à construção e reconstrução da identidade dos indivíduos. A linguagem digital presente no ciberespaço é a linguagem da hipermídia, fusão do hipertexto e da multimídia. Sua utilização requer o desenvolvimento de algumas habilidades específicas, que necessitam ser exercitadas.

O hipertexto quebra a linearidade própria da linguagem impressa do livro, em unidades de informações e permite organizar os fluxos informacionais, em redes, conectando os vários textos entre si, que formam arquiteturas hipertextuais. Permite aos indivíduos que se conectem ao ambiente e ao assunto de suas escolhas, no momento desejado, além de, mediante o processamento das informações ali armazenadas, construírem seu próprio conhecimento.

É fato que o ciberespaço demanda, dos professores, uma nova forma de atuação: o desafio de educar na cibercultura, por onde transitam crenças, costumes, técnicas materiais, práticas, atitudes, modos de pensar e valores diferenciados. Dessa maneira, devem rever sua autoria na construção do conhecimento, transformando o ambiente de comunicação de um modelo centrado na seqüência linear, característica da mídia de massa, para um modelo descentralizado e plural, cuja chave é o encontro do texto com o hipertexto.

Educar na cibercultura é olhar o aprendente de outro lugar, construindo uma nova relação com o saber; uma relação que está em constante movimento, menos rígida, favorecendo uma aprendizagem ao mesmo tempo personalizada e coletiva em rede. Nesse sentido, educar na cibercultura é muito menos transmitir conteúdo e muito mais construir conhecimento.

As metáforas centrais da relação com o saber são hoje, portanto, a navegação e o surfe, que implicam uma capacidade de enfrentar as ondas, redemoinhos, as correntes e os ventos contrários em uma extensão plana, sem fronteiras e em constante mudança. Em contrapartida, as velhas metáforas da pirâmide (escalar a pirâmide do saber ) da escala ou do cursus (já totalmente traçado ) trazem o cheiro das hierarquias imóveis de antigamente (LÉVY, 2005, p. 161 ).

Pensar a sala de aula hoje exatamente como se pensava há mais ou menos 10 anos atrás é não reconhecer as mudanças presentes no cotidiano dos adolescentes; é não reconhecer que os avanços tecnológicos se fazem presentes no simples ato de se comunicar, estando presente em todo um sistema de relações, como afirma Castells (1995, p. 11):

As origens e as trajetórias das maiores mudanças tecnológicas são sociais. A aplicação da tecnologia está determinada, como está socialmente determinado o efeito retroativo das consequências sociais de suas aplicações. Uma vez que temos supostos esses pontos fundamentais, penso que ainda é importante centrar-se sobre os efeitos específicos desta revolução tecnológica na estrutura social para entender o novo surgimento do sistema social.

Como podemos então, imaginar que a sala de aula, espaço social por excelência, possa passar incólume por tais mudanças? É preciso entender que essa transformação altera o espaço educacional. Não cabe mais pensar num aluno passivo diante de um professor orador.

O que pensar, então, sobre as formas de ensinar e aprender? Nesse sentido é preciso pensar a prática docente a partir de uma nova lógica? qual o papel do professor num contexto em que a informação não é seu monopólio?

O contexto digital requer outras formas de pensar. Isso implica compreender o aluno dos dias atuais - a geração net, para quem o acesso à informação é mais interativo e menos sequencial, dado que seu pensamento não é linear, pois privilegia a intertextualidade. Para esse aluno, a escola deve ser provedora de informação qualificada, significativa e multimídia; nela a pedagogia da transmissão perde sua força e dá lugar a processos de participação, colaboração, cooperação, interatividade e dialogicidade, tendo em vista a construção do conhecimento. Em outras palavras, educar na Sociedade da Informação,

significa muito mais que treinar as pessoas para uso das tecnologias da informação e da comunicação: trata-se de investir na criação de competências amplas, que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meios e ferramentas no trabalho, bem como aplicar criticamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. (...) de modo a serem capazes de lidar positivamente com a contínua e acelerada transformação da base tecnológica (TAKAHASHI, 2000, p. 45).

Na cibercultura, o professor é deslocado do papel de transmissor de conteúdos para o de mediador, dinamizador, orientador do processo ensino-aprendizagem, o que faz com que educadores tenham que repensar a formação desse profissional e o modelo de ensino a escolher, tornando-se, segundo Belloni (2008), um parceiro do aluno, contribuindo para a construção de seu conhecimento mediante atividades de pesquisa e a inovação de suas práticas pedagógicas. Esse novo papel do professor incide diretamente no desenvolvimento da autonomia do aluno, centro do processo de aprendizagem, fazendo com que a atuação docente esteja muito mais voltada para o diálogo do que para o monólogo, alterando, dessa forma, a hierarquia escolar do saber e a própria dinâmica da sala de aula. A ideia de um aluno autônomo, mais independente, capaz de autogerir seus estudos e regular seu processo de aprendizagem, traz junto a concepção de educação ao longo da vida como um caminho que vem ao encontro das novas exigências sociais.

Esse novo papel exige do professor abertura para mudanças; o que implica o desenvolvimento de competências relacionadas ao saber, ao fazer e ao ser, além de comprometimento com resultados, tendo em vista formar indivíduos capazes de atribuir novos sentidos para sua realidade; pessoas críticas e reflexivas, que que saibam tomar iniciativas, e propor soluções diante de novas circunstâncias. Em síntese, uma educação que lhes possibilite exercitar, no coletivo, sua individuação.

A escola, por sua vez, deve se integrar à realidade da cibercultura, sob pena de perder o contato com as novas gerações e de se tornar obsoleta como espaço de socialização; repensar como se organizam tempo e espaço em seu interior; de que forma sua organização contribui para o desenvolvimento da autonomia; como se relacionam e interagem professor e aluno; qual a a sua concepção de educação, dado que as concepções mais construtivistas do processo de aprendizagem estão alinhadas às potencialidades interativas da cibercultura, mediante a realização de aprendizagens significativas, nas quais o aluno constrói, modifica, diversifica, expande e estabelece relações que enriquecem seu conhecimento e proporcionam crescimento.

Para tanto, torna-se fundamental que transcenda seus muros, rompendo velhos paradigmas e adote uma prática pedagógica contextualizada e dinâmica, que enfatize o desenvolvimento contínuo do professor, além de reavaliar sua grade curricular, que deve privilegiar a interdisciplinaridade.

Referências

BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. São Paulo: Autores Associados, 2008.

CASTELLS. Manoel. A sociedade em rede. Paz e Terra, 1995.

LEMOS, André. Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa época. In: Olhares sobre a cibercultura. / André LEMOS, Paulo Cunha (Orgs.). Porto Alegre: Sulina, 2003.

LEMOS, André. Ciber-Cultura-Remix. In: Imagem (Ir)realidade: comunicação e cibermidia. Araujo, D. C. (Org.). Porto Alegre: Sulina, 2006.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática, São Paulo: editora 34, 1999.

LÉVY, (2001) ????

LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2ª ed..Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: 34, 2000 (5ª Reimpressão-2005).

SILVA, Marco. Sala de aula interativa. 3ª ed.. Rio de Janeiro: Quartet, 2002.

SILVA, Marco. Criar e professorar um curso on-line: relato de uma experiência. Educação online. Marco SILVA (Org.). São Paulo: Loyola, 2003.

TAKAHASHI, Tadao. Sociedade da informação no Brasil. In: TAKAHASHI,Tadao (Org.). Livro Verde. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000.