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Wiki do grupo 3 (autores: Aline, Cristiane, Miriam e Heloisa)

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Modificado: 7 abril 2010, 20:22 PM   Usuário: Mirian Amaral  → MA

Cibercultura

A globalização de mercados tem desempenhado um papel estratégico na organização sociopolítica e econômica dos países. No entanto, o que os processos e práticas põem em jogo não são apenas os deslocamentos do capital e as inovações tecnológicas, mas profundas transformações na cultura cotidiana; nos modos de estar juntos, conviver e estabelecer relações sociais; nas formas de construir e narrar identidades; e na reconfiguração das muitas culturas que convivem. Entendida, de uma forma abrangente, como ‘a tomada de consciência do mundo’, constitui processo irreversível, sustentada pelo desenvolvimento das tecnologias da informação e da comunicação - TIC, que fomenta outros vínculos sociais entre as pessoas, grupos e nações, alterando conceitos de tempo e espaço.

Considerando que o homem se realiza como ser humano na cultura e pela cultura, através de seu aparelho biológico – corpo-cérebro, que lhe permite observar, agir, saber, aprender, sentir e comunicar-se; homem e cultura definem-se pelas relações que estabelecem; ou seja, interagem entre si, como partes de um só movimento, um único fluxo, de forma, dinâmica e ininterrupta.

Assim, falar de cultura é falar de linguagem. Por meio dela construímos nossa visão de mundo, mediante de um conjunto de códigos e representações. Para Lévy (xxxx), línguas, linguagens e sistemas de signos são instrumentos cognitivos; e nossa inteligência possui uma dimensão coletiva, porque somos seres da linguagem.

As novas formas de comunicação, relacionadas com a linguagem digital, constituem, portanto, a grande transformação presente no processo de produção da existência humana. Possibilitadas pelo ciberespaço , que surge da interconexão mundial dos computadores (web) – e se configura como espaço de construção do conhecimento coletivo, ganham uma dimensão socioplanetária, no qual tecnologias digitais não significam apenas ciência e máquina, mas principalmente tecnologia social e organizativa. Diversos formatos midiáticos (imagens, textos, vídeos, sons) podem transitar em diferentes suportes. Nesse contexto, o ciberespaço abriga um conjunto de seres humanos com suas informações, conhecimentos, valores, práticas, costumes, pensamentos, que navegam e alimentam esse universo, fazendo florescer uma nova cultura – a cibercultura que não pode ser considerada como o resultado do impacto das redes digitais sobre a cultura, mas fruto dessa sinergia, que se constitui a cultura das redes. Esse processo se inicia não apenas com a informatização da sociedade e o aparecimento dos computadores pessoais, mas com a transição de um computador individual, desconectado e projetado para um sujeito racional, para uma interface em rede, no ciberespaço, que potencializa a criação, a produção coletiva, a democratização e possibilidade de acesso a informações e a culturas dos mais variados lugares, tempos e grupos.

Mas , em que consiste a cibercultura?

LEVY (2005, p. 17), define cibercultura como um “conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço”. Ressalta a idéia de que ela transmuta o conceito de cultura, inventando outra forma de fazer emergir a presença do virtual do humano, frente a si mesmo, e não pela imposição da unidade de sentido. Cria, ainda, uma alternativa local, contrapondo-se à mídia de massa.

Com seu caráter globalizante, inventa um universal sem totalidade, que permite ao indivíduo, através da comunicação com outros indivíduos, exercitar uma humanidade comum, e se relacionar moralmente com eles. Mas vale aqui ressaltar que, dado que o homem é um ser cultural, que se comporta com base em leis, normas, tradições, costumes e valores, socialmente construídos, há uma grande variabilidade em seu comportamento.

Nesse espaço cultural aberto, sem controle de conteúdo, em que se entrecruzam raças, credos, etnias, etc, num compartilhamento instantâneo de informações, é muito difícil encontrar padrões universais de pensamentos e ações. Ao imprimir uma dinâmica comunicativa própria, a linguagem digital incorpora o conjunto de informações à carga cognitiva, tornando indissociável a relação entre cultura, linguagem e cognição.

LEMOS (2003) afirma que a cibercultura é a cultura contemporânea, marcada pelas tecnologias digitais. De acordo com o autor, a possibilidade de se gerar e disseminar conhecimentos, mediante a conexão generalizada, do tudo em rede, inicialmente fixa e, agora, cada vez mais móvel, além de ressaltar, a um só tempo, a ubiqüidade e a instantaneidade, faz florescer novas formas de subjetividade, corporificando esse ser da linguagem, favorecendo o diálogo e desmitificando o sujeito do iluminismo - aquele que é dotado da capacidade da razão, permanecendo essencialmente o mesmo, e colocando no centro 'o ser da provisoriedade', em permanente transformação.

Nessa perspectiva, a conexão é preferível ao isolamento, a inteligência é coletiva, a comunicação é recíproca, interativa e os interlocutores são atores, para além do indivíduo, pois, “quando deixamos de manter a consciência individual no centro, descobrimos uma nova paisagem cognitiva, mais rica. Em particular, o papel das interfaces e das conexões de todos os tipos adquire uma importância fundamental”( Lévy, 1983, p.173 ).

Lemos (idem) ressalta, ainda, que o clique generalizado possibilita a ação imediata, o conhecimento simultâneo e complexo e a participação ativa nos diversos fóruns sociais. Esse fenômeno torna-se evidente pela busca efetiva da conexão social, através de e-mails, listas, blogs, webcams, twitters, num sentimento de religação entre as pessoas, e produz, rapidamente, eco na sociedade local e planetária.

Três leis fundamentam a cibercultura, segundo Lemos (2006): a liberação do pólo da emissão, o princípio de conexão em rede e a reconfiguração de formatos midiáticos e práticas sociais. Tais fundamentos são consequência do potencial das tecnologias digitais para recompor e nortear os processos de re-mixagem contemporâneos e têm como corolário uma mudança social na vivência de espaço e tempo. Por re-mixagem entende-se o conjunto de práticas sociais e comunicacionais de combinações, recombinações, colagens, cut-up de informação a partir das tecnologias digitais. Qualquer pessoa pode sozinha ou coletivamente compartilhar, produzir e se apropriar de informações, em tempo real, disponíveis sob diversos formatos e mídias, em qualquer lugar, e alterar, adicionar e recombinar com pedaços de informações criados por outros.

O ciberespaço possibilita, então, a constituição de uma cultura na qual se inverte a lógica da mídia de massa, que funciona apenas a partir de uma relação de um para muitos, com clara distinção entre produtores e receptores da informação, cabendo a quem recebe apenas ler ou assistir aquilo que algum produtor acredita que seja do seu interesse. Com a liberação do pólo de emissão que dá espaço à interatividade, a cibercultura põe em xeque o modelo clássico da informação: “emissor e receptor mudam respectivamente de papel e de status, quando a mensagem se apresenta como conteúdos manipuláveis e não mais como emissão” (SILVA, 2003, p. 53). Aqui qualquer um pode ser não apenas consumidor, mas também produtor da informação, emissor.

Marcos Silva (2001) apresenta os conceitos de interação e interatividade, chamando-nos a atenção para o fato deste último estar sendo usado, em larga escala e de forma difusa, ora como sinônimo de interação, ora significando “troca”.

Para o autor, a interatividade é “a abertura para mais e mais comunicação, mais e mais trocas, mais e mais participação”. Interatividade constitui-se no não-linear, no ato de colaboração, é sentido de poder, é permutabilidade e é a possibilidade de o indivíduo falar, ouvir, argumentar, criticar; ou seja, estar conscientemente disponível para mais comunicação.

Trabalhando e exemplificando os conceitos de participação, bidirecionalidade e potencialidade-permutabilidade, ele mostra que o mundo das interfaces representa o espaço propício à interatividade, pois permite a fusão sujeito-objeto (obra). Nele, o usuário tem liberdade de escolha, navega livremente, faz permutas, estabelece conexões, seleciona e utiliza informações de seu interesse, em tempo real.

Para um melhor entendimento da relação entre interatividade e meios de comunicação é necessário estabelecer a diferença entre meio interativo e conteúdo interativo. Os meios interativos são afetos às mídias que, tecnologicamente, permitem aos usuários, intervir nas mensagens recebidas, com base em escolhas entre diferentes programas, pessoas, finais de histórias, ou ainda, efetuar compras. Já o conteúdo interativo, permite intervir diretamente no teor da mensagem, criando, a partir de uma rede de nós, um roteiro com diversos caminhos.

Azambuja (2004), ao valer-se de uma linguagem metafórica- a dança da interação- lembra-nos, ainda, que a interatividade, além de ser uma forma de apresentação e acesso a informações, é, essencialmente, uma atividade lúdica. Assim sendo, as interfaces, além de intuitivas e funcionais, devem constituir-se em fontes de prazer, oferecendo algo divertido, que permita ao indivíduo exercer sua liberdade e criatividade.

As tecnologias móveis e a cibercultura podem ser usadas não apenas para trazer atividades educativas para fora da sala de aula, mas para a criação de novas relações entre as redes sociais e a educação; a produção de conhecimentos e a escola. Pierre Lévy (1999) assinala que o crescimento do ciberespaço é resultado de um movimento internacional de jovens ávidos por experimentar coletivamente formas de comunicação diferentes. Articular um discurso multimidiático e produzir coletivamente parecem ser habilidades adquiridas nesses novos ambientes.

Referências

LEMOS, André. Cibercultura: alguns pontos para compreender a nossa época. In: Olhares sobre a cibercultura. / André LEMOS, Paulo Cunha (Orgs.). Porto Alegre: Sulina, 2003.

LEMOS, Andre. Ciber-Cultura-Remix. In: Imagem (Ir)realidade: comunicação e cibermidia. Araujo, D. C. (Org.). Porto Alegre: Sulina, 2006.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2ª ed..Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: 34, 2000 (5ª Reimpressão-2005).

SILVA, Marco. Criar e professorar um curso on-line: relato de uma experiência. Educação online. Marco SILVA (Org.). São Paulo: Loyola, 2003.