A perspectiva comunicacional na docência online

Lévy (2005) afirma que foi com o surgimento do ciberespaço (interconexão mundial de computadores), que se formou a grande e única megalópole virtual, na qual todos os centros urbanos se interconectam e formam a sociedade planetária. Esse espaço não territorial possibilita o florescer de uma nova cultura: a cibercultura, “[...] conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores” (p. 17), que se desenvolve nesse meio e potencializa aprendizagens permanentes, personalizadas e cooperativas, mediante navegação em espaços de saber não totalizantes.

Nessa perspectiva, a educação online combina diversos componentes didático-pedagógicos, a partir de projetos pedagógicos embasados em teorias de aprendizagem socioconstrutivista, como material impresso, vídeos, CD de conteúdo e CD de áudio e passa a questionar a lógica da transmissão própria da cultura de massa e dos sistemas de ensino, presencial e a distância, propondo a liberação do pólo de emissão das tecnologias digitais, permitindo que se pratiquem novos arranjos espaçotemporais, na educação de indivíduos dispersos geograficamente, potencializando a aprendizagem colaborativa.

Lemos (2003) afirma que a cultura contemporânea, representada pela cibercultura, é marcada pelas tecnologias digitais, que possibilitam a geração e a disseminação de conhecimentos, mediante conexão generalizada, do tudo em rede, inicialmente fixa e, agora, cada vez mais móvel, que ressalta, a um só tempo, a ubiqüidade e a instantaneidade, evidenciando um sentimento de religação entre as pessoas, através de e-mail, blogs, listas de discussão, twitters, entre outros.

Mas, afinal, o que é cibercultura?

A cibercultura representa uma nova forma de se relacionar com o outro e com o mundo. Em relação às práticas adotadas para esse fim, muito se tem discutido. Enquanto alguns autores as defendem, alegando que elas guardam aproximações com o espaço das teatralizações cotidianas, outros as criticam pela ausência de referência física e anonimato, alertando para o risco de se estabelecer relações de confiança, em formas midiáticas online. Na realidade, diz Lemos (2003), o que se deseja, para além da conexão em rede e do simples falar ou ouvir, é a navegação, a interação e a simulação. Ressalta, ainda, o autor, que o clique generalizado possibilita a ação imediata, o conhecimento simultâneo e complexo e a participação ativa nos diversos fóruns sociais.

Entretanto, a aquisição do conhecimento pressupõe a compreensão de todas as dimensões da realidade, captando e expressando essa totalidade, de forma cada vez mais ampla e integral. E isso requer, além da conexão, competências relacionadas a habilidades de ler, compreender, interpretar, relacionar, analisar, sintetizar e aplicar, entre outras; ou seja, acessar o objeto de todos os pontos de vista, por todos os caminhos, integrando-os da forma mais rica possível (MORAN, 1994).

Com a liberação do pólo de emissão, a cibercultura põe em xeque o modelo clássico da informação: “emissor e receptor mudam respectivamente de papel e de status, quando a mensagem se apresenta como conteúdos manipuláveis e não mais como emissão” (SILVA, 2003, p. 53). Aqui qualquer um pode ser além de consumidor, produtor da informação -emissor, criando, dessa forma, espaço para a interatividade.

Para Silva (2001) interatividade é “a abertura para mais e mais comunicação, mais e mais trocas, mais e mais participação”. Constitui-se no não linear, no ato de colaboração, é sentido de poder, é permutabilidade e é a possibilidade de o indivíduo falar, ouvir, argumentar, criticar; ou seja, estar conscientemente disponível para mais comunicação. O autor afirma que participar é intervir na mensagem como cocriação da emissão e da recepção e que o mundo das interfaces representa o espaço propício à interatividade, pois permite a fusão sujeito-objeto (obra). Nele, o usuário tem liberdade de escolha, navega livremente, faz permutas, estabelece conexões, seleciona e utiliza informações de seu interesse, em tempo real.

É fato que o ciberespaço demanda, dos professores, uma nova forma de atuação. Educar na cibercultura é olhar o aprendente de outro lugar, construindo uma nova relação com o saber; uma relação que está em constante movimento, menos rígida, favorecendo uma aprendizagem ao mesmo tempo personalizada e coletiva em rede, tendo em vista a construção do conhecimento.

Como podemos então, imaginar que a sala de aula, espaço social por excelência, possa passar incólume a tais mudanças? É preciso entender que essa transformação altera o espaço educacional. Não cabe mais pensar num aluno passivo diante de um professor orador.

O que pensar, então, sobre as formas de ensinar e aprender? qual o papel do professor num contexto em que a informação não é seu monopólio?

O contexto digital requer outras formas de pensar. Isso implica compreender o aluno dos dias atuais - a geração net, para quem o acesso à informação é mais interativo e menos sequencial, dado que seu pensamento não é linear, pois privilegia a intertextualidade. Para esse aluno, a escola deve ser provedora de informação qualificada, significativa e multimídia; nela a pedagogia da transmissão perde sua força e dá lugar a processos de participação, colaboração, cooperação, interatividade e dialogicidade, tendo em vista a construção do conhecimento. Em outras palavras, educar na Sociedade da Informação,

significa muito mais que treinar as pessoas para uso das tecnologias da informação e da comunicação: trata-se de investir na criação de competências amplas, que lhes permitam ter uma atuação efetiva na produção de bens e serviços, tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meios e ferramentas no trabalho, bem como aplicar criticamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. (...) de modo a serem capazes de lidar positivamente com a contínua e acelerada transformação da base tecnológica (TAKAHASHI, 2000, p. 45).

Na cibercultura, o professor é deslocado do papel de transmissor de conteúdos para o de mediador, dinamizador, orientador do processo ensino-aprendizagem, o que faz com que educadores tenham que repensar a formação desse profissional e o modelo de ensino a escolher, tornando-se, segundo Belloni (2008), um parceiro do aluno, contribuindo para a construção de seu conhecimento mediante atividades de pesquisa e a inovação de suas práticas pedagógicas. Esse novo papel do professor incide diretamente no desenvolvimento da autonomia do aluno, centro do processo de aprendizagem, fazendo com que a atuação docente esteja muito mais voltada para o diálogo do que para o monólogo, alterando, dessa forma, a hierarquia escolar do saber e a própria dinâmica da sala de aula. A ideia de um aluno autônomo, mais independente, capaz de autogerir seus estudos e regular seu processo de aprendizagem, traz junto a concepção de educação ao longo da vida como um caminho que vem ao encontro das novas exigências sociais.

Esse novo papel exige do professor abertura para mudanças; o que implica o desenvolvimento de competências relacionadas ao saber, ao fazer e ao ser, além de comprometimento com resultados, tendo em vista formar indivíduos capazes de atribuir novos sentidos para sua realidade; pessoas críticas e reflexivas, que que saibam tomar iniciativas, e propor soluções diante de novas circunstâncias. Em síntese, uma educação que lhes possibilite exercitar, no coletivo, sua individuação.

A escola, por sua vez, deve se integrar à realidade da cibercultura, sob pena de perder o contato com as novas gerações e de se tornar obsoleta como espaço de socialização; repensar como se organizam tempo e espaço em seu interior; de que forma sua organização contribui para o desenvolvimento da autonomia; como se relacionam e interagem professor e aluno; qual a a sua concepção de educação, dado que as concepções mais construtivistas do processo de aprendizagem estão alinhadas às potencialidades interativas da cibercultura, mediante a realização de aprendizagens significativas, nas quais o aluno constrói, modifica, diversifica, expande e estabelece relações que enriquecem seu conhecimento e proporcionam crescimento.

Para tanto, torna-se fundamental que transcenda seus muros, rompendo velhos paradigmas e adote uma prática pedagógica contextualizada e dinâmica, que enfatize o desenvolvimento contínuo do professor, além de reavaliar sua grade curricular, que deve privilegiar a interdisciplinaridade.