Wiki - GT 4
Neste fórum o GT irá compartilhar materiais de estudos sobre o tema e mediará os debates online.
Bom trabalho para todos e todas!
[]s
Méa
Wiki - GT 4
(Restore this version)
Modified: 14 May 2012, 2:15 PM User: Regina Cury →
Antes de mergulhar no estudo nas netnografias é bom situar-se nos dilemas metodológicos da Antropologia. Esta é a introdução de uma obra que discute a etnografia e a tradução cultural como caminhos para o conhecimento de outras culturas. Vejam
http://www.scielo.br/pdf/bgoeldi/v3n1/v3n1a02.pdf
/>Bj
Fatima
Netnografia Introdução (conceituação, relações com a Cibercultura e as Ciências Sociais-Antropologia)
No prefácio do livro o pesquisadorAlexander Halavais fala que com a internet as Ciências Sociais precisam de novas maneiras de pesquisar então são criados métodos que são como lentes para compreender a nova realidade social. Fonte: incluir detalhes do livro
Imagens para analogia http://www.arcauniversal.com/mundocristao/series/noticias/imagens/aug25galileotelebw.jpg http://objetom42.files.wordpress.com/2011/03/telescpio-de-galileu.jpg http://1.bp.blogspot.com/_V32jx77vvh0/ class="wiki_newentry" href="https://docenciaonline.pro.br/moodle/mod/wiki/create.php?swid=80&title=SpQVmCwyM_I&action=new">SpQVmCwyM_I/AAAAAAAAAcw/cJKg2Q4kwW8/s800/galileo.jpg http://2.bp.blogspot.com/-[[C4trpiH_7ks]]/[[TlWH_]]-79H1I/AAAAAAAABOE/z2iEG8Hop_c/s1600/[[4167119_0b130eaa7e]].jpg
RIFIOTIS (2010) destaca que a antropologia tem enfrentado vários desafios teóricos e metodológicos nos últimos anos, com relação as interações mediadas por computador.Fonte: RIFIOTIS, Theophilos, ANTROPOLOGIA DO CIBERESPAÇO. Duas ou três coisas sobre elas, as comunidades virtuais.Editora UFSC, Santa Catarina. p.71-81
"Segundo Kozinets (2002) a netnografia é definida como um método de pesquisa derivado da técnica etnográfica desenvolvida no campo da antropologia e, costuma-se dizer que a netnografia tem conhecido um crescimento considerado devido à complexidade das experiências da sociedade digital." Fonte: Netnografia: incursões metodológicas na cibercultura. Paula Jung Rocha e Sandra Portella Montardo. e-Compos, Dezembro de 2005. Disponível em: www.compos.com.br/e-compos
Para Rutter e Smith (2002), a etnografia online, outro nome encontrado para a netnografia, é o sonho do pesquisador, já que o mesmo não precisa sair se sua mesa, não precisa negociar acesso a informação e os dados coletados podem ser facilmente coletados e salvos para uma análise posterior Fonte: Netnografia: incursões metodológicas na cibercultura. Paula Jung Rocha e Sandra Portella Montardo. e-Compos, Dezembro de 2005. Disponível em: www.compos.com.br/e-compos
"Netnografia é etnografia conectada pela tecnologia, ou pela internet. A netnografia é a etnografia adaptada às complexidades de nosso mundo social contemporâneo, mediado pela tecnologia." Este tipo de método fornece um modo de adaptar a etnografia para uma época onde a cultura é mediada pela tecnologia, considerando a "combinação complexa de socialidade online e offline". É focada em insights culturais e é diferente porque não trata comunicações online apenas como “conteúdo”, mas como interações sociais, como expressões cercadas de significado e como artefatos culturais. A netnografia presta muita atenção no contexto."
Fonte: http://kozinets.net/oneclick_uploads/2010/11/netnografia_portugues.pdf
"O termo netnografia tem sido mais amplamente utilizado pelos pesquisadores da área do marketing e da administração enquanto o termo etnografia virtual é mais utilizado pelos pesquisadores da área da antropologia e das ciências sociais."
Fonte: http://docenciaonline.pro.br/moodle/mod/resource/view.php?id=2454
A criação do termo "netnografia” (nethnography= net + ethnography) data de 1995 e é atribuída a um grupo de pesquisadores americanos (B i s h o p , Star, Neumann, Ignacio, Sandusky & Schatz).
Fonte: http://docenciaonline.pro.br/moodle/mod/resource/view.php?id=2454
A transposição da etnografia "para o estudo de práticas comunicacionais mediadas por computador recebe o nome de Netnografia, ou etnografia virtual". A Netnografia é observada como "um dos métodos qualitativos que amplia o leque epistemológico dos estudos em comunicação e cibercultura".
Fonte: http://docenciaonline.pro.br/moodle/mod/resource/view.php?id=2454
Diferenças entre Netnografia e Etnografia: "Um aspecto que a netnografia apresenta como limitação frente a etnografia tradicional diz respeito à identidade e veracidade dos participantes. A identidade dos bloggeiros, bem como da veracidade das informações postadas é questionável. Por isso, torna-se pertinente triangular a técnica de observação netnográfica com outras técnicas de pesquisa como entrevistas, análise de outros documentos disponíveis no ciberespaço,como sites, etc."
Fonte: http://penta3.ufrgs.br/midiasedu/modulo8/etapa1/leituras/estudo_dos_blogs.pdf
Vantagens da netnografia (KOZINETS, 2002):
- consume menos tempo
- mais barata
- menos subjetiva
- menos invasiva
- perde em termos de gestual
- perde em contato presencial off-line
Fonte: http://docenciaonline.pro.br/moodle/mod/resource/view.php?id=2454
"Por se tratar de uma transposição de metodologia do espaço físico ao espaço on-line, ao utilizar a netnografia faz-se necessário incluir procedimentos específicos acerca da tipologia dos objetos estudados."
Fonte: http://docenciaonline.pro.br/moodle/mod/resource/view.php?id=2454
Mapeamento do campo de pesquisa na Cibercultura/ciberespaço
Netnografia
Conversações Práticas AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image001.png" /> Negociações simbólicas |
Observação sistemática Investigação interpretativa |
Decompor e desvendar padrões de comportamento social e cultural |
AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image002.png" /> AppData/Local/Temp/msohtmlclip1/01/clip_image003.png" />
A abordagem etnográfica é uma das metodologias apropriadas ao estudo empírico da internet. Por esta abordagem,compreende-se as práticas comunicacionais num sentido mais amplo considerando os aspectos culturais e comportamentais das comunidades e grupos a serem estudados.
Termos que aparecem relacionados ao método etnográfico e sua adaptação ao ambiente virtual/cibercultura: etnografia virtual, netnografia, etnografia digital, webnografia e ciberantropologia.
Christine Hine foi responsável pela popularização do termo etnografia virtual e argumenta que nunca está desvinculada do off-line.FRAGOSO(2012)
O neologismo netnografia foi cunhado na metade dos ano 90 e popularizado por Robert Kozinets em suas pesquisas com os fandoms, ao marketing e às comunidades de consumo. FRAGOSO(2012)
Autores que discutem a netnografia no Brasil: Sá(2002), Montardo&Rocha(2005), Amaral, Natal & Viana(2008), Silveira(2006), Gutierrez(2009).
Christine Hine alertou em lista de discussão a qual Adriana Amaral teve acesso em2011, que esses vários neologismos derivam da suposta distinção entre os ambientes on-line e off-line e não reflete uma relação de contiguidade a atravessamento entre ambos.
Entretanto as diferenças entre uma entrevista realizada presencialmente e as realizadas por MSM ou Skype devem ser incluídas na narrativa etnográfica a ser construída ao longo da pesquisa.
Fragoso compreende que o termo “etnografia” pode ser retomado. Para tanto é importante explicitar e problematizar as diferenças em termos de coletas de dados e observações.
Como fazer? Percurso Metodológico
"A partir da inserção do pesquisador na comunicação mediada por computador para a observação e investigação de práticas culturais e de comunicação, troca-se o campo não por um “não-lugar” como aferia Augé (1994) nos anos 90, mas por um território contíguo ao off-line que tanto constitui um meio de comunicação, um ambiente de relacionamento e um artefato cultural (SHAH, 2005) o que “fornece pistas evidentes da conexão da antropologia com a cibercultura” (MONTARDO & ROCHA, 2005, p. 08)"
"O p e s q u i s a d o r q u a n d o v e s t i d o d e netnógrafo, se transforma num experimentador do campo, engajado na utilização do objeto pesquisado enquanto o pesquisa (KOZINETS, 2007). " "As análises netnográficas “podem variar ao longo de um e spe c t ro que va i de sde s e r intensamente participativa até ser completamente não-obstrutiva e observacional” (KOZINETS,2007: 15).
Fonte: http://docenciaonline.pro.br/moodle/mod/resource/view.php?id=2454
Três tipos de captura de dados são eficazes para a coleta de dados (Kozinets, 2002).
- Dados coletados e copiados diretamente da fonte, ou seja, dos membros das comunidades online, que precisam ser filtradas pelo pesquisar para que sobrem só as informações relevantes para a pesquisa.
- Informações das práticas de comunicação dos membros das comunidades, observadas pelo pesquisador.
- Dados obtidos através de entrevistas através de e-mails, chats ou mensagens instantâneas, entre outras.
Os ambientes on-line estão divididos em 4 níveis de privacidade:público:aberto e disponível a todos,semipublico(requer cadastro),semiprivado(requer convite)privado(requer autorização)
Fonte: Incluir
"Os p o n t o s c r u c i a i s q u e r e q u e r em a discussão de uma ética de pesquisa, segundo Kozinets (2002) são, até onde a informação contida num site é pública ou privada e o que é o uso consensual de informações no ciberespaço. Além de eticamente recomendável, para Kozinets (2002), a checagem de dados com os próprios membros do grupo, legitima e acrescenta credibilidade à pesquisa. Através dos membros do grupo e da solicitação de suas opiniões, pode-se chegar a insights e conclusões além das observadas em campo."
Fonte: http://docenciaonline.pro.br/moodle/mod/resource/view.php?id=2454
A netnografia segue as seguintes fases sobrepostas:
1. Planejamento de pesquisa 2. Entrada 3. Coleta de dados 4. Interpretação 5. Garantia de padrões éticos 6. Apresentação da pesquisa
Fonte> http://kozinets.net/oneclick_uploads/2010/11/netnografia_portugues.pdf
"Em relação à coleta de dados, Kozinets (1997) destaca que há as notas de campo das experiências no ciberespaço que devem ser combinadas com os “artefatos” da cultura ou comunidade, como download de arquivos de postagens de newsgroups, transcrições de sessões de MUD ou IRC e trocas de e-mails, além de imagens, arquivos de áudio e de vídeo.
" Fonte: http://penta3.ufrgs.br/midiasedu/modulo8/etapa1/leituras/estudo_dos_blogs.pdf
Estudo de caso
http://web.upla.cl/revistafaro/n2/02_watanabe.htm (já postado pela Fátima). http://penta3.ufrgs.br/midiasedu/modulo8/etapa1/leituras/estudo_dos_blogs.pdf (acabei de postar)
Caso que defende o uso da Netnografia como uma forma mais sustentável e verde de pesquisa - http://kozinets.net/archives/category/netnography/page/2
O YouTube tem alguns vídeos sobre netnografia. Estou postando 2 elaborados com base no Orkut.
http://www.youtube.com/watch?v=[[UZfHtwNanbc]]
Não-lugar: o encontro entre a Antropologia e a Cibercultura
em que se pretende tratar os fenômenos contemporâneos ligados à
comunicação. Ao partir de uma constatação temporária de que a cibercultura
é uma matriz de sentido destes tempos, como já se falou anteriormente, há de
se pensar o modo pelo qual o olhar científico deve se guiar na análise de tais
ocorrências.
O fato é que as recorrentes pesquisas ao campo da antropologia (devido
à legitimação dos instrumentos de pesquisa de campo que atuam sobre o
local) levam a considerações, importantes, ainda que não sejam inéditas,
quando se trata de investigar os elementos que descrevem a consolidação de
uma era fortemente permeada pela cibercultura, ou seja, pela
desterritorialização que remete justamente ao não pertencimento físico e
presencial do lugar. Uma época em que pode ser comum, em um primeiro
www.compos.com.br/e-compos Dezembro de 2005 - 7/22
Revista da Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação em Comunicação
momento, relacionar a oposição online/virtual versus offline/real. Porém em
que em um aprofundamento teórico tal sensação fragiliza-se.
Pode-se dizer que o conceito de não-lugares de Augé (1994) fornece
pistas evidentes da conexão da antropologia com a cibercultura, ainda que o
autor não a tenha explicitado (o texto original é de 1992, antes, portanto, da
popularização da internet pelo mundo). A título de contraponto, o autor,
conceitua lugar a partir de três características comuns, quais sejam, ser
pretensamente identitários, relacionais e históricos. Nas palavras do autor
(1994): “finalmente, o lugar é necesariamente histórico a partir do momento
em que, conjugando identidade e relação, ele se define por uma estabilidade
mínima. (AUGÉ, 1994, p.53). Quanto aos não-lugares, a citação que segue é
bastante esclarecedora:
A hipótese aqui defendida é a de que a supermodernidade é
produtora de não-lugares, isto é, de espaços que não são em si
lugares antropológicos e que, contrariamente à modernidade
baudelairiana, não integram os lugares antigos: estes,
repertoriados, classificados e promovidos a ‘lugares de memória’,
ocupam aí um lugar circunscrito e específico (AUGÉ, 1994, p.73)
Como exemplo de não-lugares, o autor cita: ferroviárias, rodoviárias e
domicílios móveis (meios de transporte) tais como aviões, trens, ônibus,
aeroportos, estações, grandes cadeias de hotéis, parques de lazer, e,
finalmente, “as grandes superfícies de distribuição, a meada complexa, enfim,
redes a cabo ou sem fio, que mobilizam o espaço extraterrestre para uma
comunicação tão estranha que muitas vezes só põe o indivíduo em contato
com uma outra imagem de si mesmo” (AUGÉ, 1994, p.75). O autor (1994)
ainda destaca que um não-lugar pode existir como lugar, destacando ainda
que lugar e não-lugar são polaridades fugidias: o primeiro nunca é
completamente acabado e o segundo nunca se realiza completamente.
Um ponto importante a ser destacado é que o usuário do não-lugar
mantém com ele uma relação contratual (comércio, trânsito, comércio, lazer).
Esses não-lugares têm por característica serem definidos por palavras ou
www.compos.com.br/e-compos Dezembro de 2005 - 8/22
Revista da Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação em Comunicação
textos, os quais propõem ao usuário, de forma prescritiva, informativa,
proibitiva, o seu próprio “manual de utilização”. Para tanto, vale-se de uma
variedade de códigos ou, até, mesmo, da língua natural.
Em termos de ciberespaço, pode-se dizer que o mecanismo de
mediação se dá por meio da interatividade do usuário frente a interfaces
gráficas. Lemos (1997, internet) propõe que a interatividade digital é um tipo
de relação tecno-social, consistindo no diálogo entre homens e máquinas
(baseadas no princípio da microeletrônica), cujo contato é permitido por
‘interfaces gráficas’, em tempo real. Com a tecnologia digital, o usuário pode
interagir não só com o objeto (a máquina ou a ferramenta), mas também com
a informação, com o conteúdo, seja da televisão interativa digital, seja com os
ícones das interfaces gráficas dos microcomputadores.
Essa característica da interatividade digital, de permitir a interação
com a informação (“cuja forma física escapa à nossa escala de percepção”,
segundo Manzine, apud Lemos, 1997, internet) e não apenas com o suporte
técnico, tende a afetar de maneira substancial as relações entre sujeito e
objeto na contemporaneidade.
Pode-se dizer que são as interfaces gráficas meios (
A inquietação que persegue este estudo está presente desde o momentohardware e
) pelos quais se dá à interatividade entre os homens e máquinas
http://www.compos.org.br/seer/index.php/e-compos/article/viewFile/55/55
software
Netnografia e etnografia virtual
Antes de discutir este tema propriamente dito, vale ressaltar que as
pesquisas para este trabalho basearam-se em referências bibliográficas (tanto
em bibliotecas presenciais como em informações disponíveis na rede). O que
se pode notar com maior relevância é a utilização do termo etnografia virtual
por pesquisadores da área da comunicação e de netnografia, principalmente,
por estudiosos da área de marketing digital. Optou-se por nomear, aqui neste
texto, tal metodologia como netnografia conforme utilizado pela pesquisadora
Simone Pereira de Sá, como será visto a seguir.
Uma das possibilidades de se estudar o imaginário virtual e seus atores
sociais se faz pelo método da observação. Assim como é comum para a
antropologia, a observação no ciberespaço é relevante. Porém devido à
natureza desterritorializada do ciberespaço, o que se pergunta é de que forma
fazer a observação participante à distância. A premissa básica da aproximação
ao objeto de estudo merece, então, um redirecionamento.
Faz-se pertinente retomar alguns pontos sobre o campo da
antropologia/etnografia. Para isto o pesquisador Clifford Geertz, o qual é
favorável a uma “descrição densa” como principal conceito de etnografia
esclarece que,
fazer etnografia é como tentar ler (no sentido de construir uma
leitura de) um manuscrito estranho, desbotado, cheio de elipses,
incoerências, emendas suspeitas e comentários tendenciosos,
escrito não com os sinais convencionais do som, mas com
exemplos transitórios de comportamento modelado. (GEERTZ,
1989, p. 20)
Outra concepção de etnografia pode ser encontrada em Aguirre Baztán,
segundo o qual “etnografia é o estudo descritivo da cultura de uma
comunidade, ou de algum de seus aspectos fundamentais, sobre a perspectiva
de compreensão global da mesma” (BAZTÁN, 1995, p.3).
Este trabalho objetiva refletir quanto ao cumprimento de um roteiro
metodológico condizente com uma atitude que privilegie uma “antropologia
www.compos.com.br/e-compos Dezembro de 2005 - 10/22
Revista da Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação em Comunicação
do próximo”. Expressão teorizada pelo antropólogo Marc Augé (1994), o qual
situa sua posição de que “a antropologia sempre foi uma antropologia do aqui
e do agora” porque o autor/pesquisador, segundo o autor, deve ser o etnólogo
que se encontra em algum lugar (seu aqui do momento) e que descreve aquilo
que observa ou escuta naquele momento” (AUGÉ, 1994, p. 56).
Tal argumentação está associada à problematização que pretende este
texto uma vez que ao nomear o presente como cibercultura entende-se que
grande parte das pesquisas científicas estão sendo feitas hoje a partir da sua
análise. E ainda, se segundo o antropólogo, “toda etnologia supõe um
testemunho direto de uma atualidade presente” (AUGÉ, 1994, p.75), cabe ao
pesquisador-etnógrafo contemporâneo escolher corretamente o que lhe é mais
apropriado, em termos de técnicas e ferramentas de pesquisa, para auxiliá-lo
como testemunha de um mundo que também se desenrola no ciberespaço e,
que tende a cada dia, diminuir concretamente a fronteira entre real e virtual.
Quanto à questão da escolha do método etnográfico, portanto da
utilização da teoria antropológica como pano de fundo para este artigo que faz
parte de uma pesquisa na área da cibercultura, segue uma citação de Augé que
legitima esta proposta e, principalmente enaltece a ciência do homem
(Antropologia) na contemporaneidade e não apenas numa época em que
Antropologia se prestava, quase que exclusivamente, ao estudo dos povos
distantes e primitivos, como se sabe.
A questão que se coloca, primeiro, a propósito da
contemporaneidade próxima não é saber se e como se pode
pesquisar num grande conjunto, numa empresa ou numa colônia
de férias (bem ou mal, chegar-se-á a isso), mas saber se há
aspectos da vida social contemporânea que aparecem hoje como
se originando de uma investigação antropológica – da mesma
maneira que as questões de parentesco, da aliança, do dote, da
troca etc. impuseram-se, primeiro, à atenção (como objetos
intelectuais) dos antropólogos do distante. (AUGÉ, 1994, p. 20)
www.compos.com.br/e-compos Dezembro de 2005 - 11/22
Revista da Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação em Comunicação
Portanto, é pertinente compreender que se passa por um período de
transição da modernidade para a pós-modernidade, e considerar os
indicativos de tal mudança. Na (re)formulação das variáveis contemporâneas,
se manifestam as cristalizações sociais, tecnológicas, políticas e econômicas,
que constituem as formas “formantes” que influenciam o fundo e o imaginário
da atualidade. Os usuários dos não-lugares estão produzindo e sendo
alimentados pelo imaginário da cibercultura.
Visto que as características da contemporaneidade evidenciam
explicitamente a supressão do tempo e do espaço, faz-se importante abordar
esta problemática. No que concerne às novas tecnologias de comunicação e de
informação é sabido que uma das principais contribuições das invenções, ao
longo, da história da humanidade é de tentar controlar o tempo e expandir o
seu alcance no espaço.
A globalização inaugura o pensamento da desterritorizalição dos
valores, mercadorias e também das pessoas. A própria noção de real e de
virtual, amplamente discutida também se torna alvo de relativizações. O
pesquisador Otávio Ianni lança sua opinião sobre o fenômeno
contemporâneo, pós-moderno ou não, para o fato de que as categorias de
tempo e de espaço evidenciam fragilidades na conceituação. Sobre esse ponto,
o autor complementa:
É assim que a desterritorialização aparece como um momento
essencial da pós-modernidade, um modo de ser isento de espaços
e tempos, no qual se engendram espaços e tempos inimagináveis.
É como se o mundo se mostrasse povoado de sucedâneos,
simulacros, fetiches autonomizados, reificados, alheios ao cerne
das coisas, isentos da tensão e aura do real. (IANNI, 1996, p. 105)
Conforme Augé (1994), a exploração do espaço e do tempo se torna aos
poucos um desafio para homem, que mesmo ao descobrir a infinidade do
universo persiste no desejo de ubiqüidade com consciência dos limites. Nas
palavras do autor, tem-se que:
www.compos.com.br/e-compos Dezembro de 2005 - 12/22
Revista da Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação em Comunicação
Do excesso de espaço poderíamos dizer, (...) que é correlativo do
encolhimento do planeta: dessa colocação à distância de nós
mesmos à qual correspondem às performances dos cosmonautas
e a ronda de nossos satélites. Num certo sentido, nossos
primeiros passos no espaço reduzem o nosso ponto ínfimo cujas
fotos feitas por satélite dão-nos justamente a medida exata. O
mundo, porém, no mesmo tempo, abre-se para nós.(AUGÉ, 1994,
p. 34)
Ao levar em consideração fundamentalmente a premissa do
antropólogo Marc Augé sobre o que chama de “etnologia da solidão”, cuja
manifestação mais radical no presente seria a relação que o homem estabelece
com o computador e seus serviços, ou seja, a virtualidade, principalmente a
internet, pode-se assim associar com a consolidação de um não-lugar, neste
caso, o ciberespaço3. O autor não utiliza o termo pós para classificar o
presente (exemplo, pós-modernidade). Prefere acrescentar o prefixo super,
que faz menção ao excesso.
A supermodernidade (que procede simultaneamente das três
figuras do excesso que são a superabundância factual, a
superabundância espacial e a individualização das referências)
encontra naturalmente sua expressão completa nos não-lugares.
Por estes, ao contrário, transitam palavras e imagens que
retomam raiz nos lugares ainda diversos onde os homens tentam
construir uma parte de sua vida cotidiana (AUGÉ, 1994, p. 100).
Noutro ponto do texto, o autor acrescenta que “é no anonimato do nãolugar
que se experimenta solitariamente a comunhão dos destinos humanos”
(1994, p.110). Pode-se com esta citação de Augé caracterizar a paradoxal
sociedade contemporânea, pois ao mesmo tempo em que o não-lugar é
solitário e contratual, vê-se que a apropriação da cultura pela cibernética, ou
seja, a cibercultura promove também no ciberespaço situações de socialidade
em rede. O sucesso de sites de relacionamento, Orkut e derivados, são provas
desta potencialização de sentimentos. Porque também se constituí em uma
possibilidade de comunhão, de agregação virtual, nem por isso menos real,
7 Esta associação do conceito de não-lugar proposto por Marc Augé e do conceito de
ciberespaço, ou espaço virtual é uma das constatações que a autora se permitiu fazer
por acreditar nas semelhanças entre os não-lugares apontados por Augé e as
discussões a respeito da natureza do ciberespaço.
www.compos.com.br/e-compos Dezembro de 2005 - 13/22
Revista da Associação Nacional dos
Programas de Pós-Graduação em Comunicação
dos indivíduos. Assim, pode-se fazer a associação do imaginário pós-moderno
ser coletivo (proposto por Maffesoli) e, ao mesmo tempo, não excluir os
apontamentos de Augé sobre a prevalência do individualismo na
contemporaneidade.