Wiki do grupo 6 (autores: Isabela e
Este trabalho pretende abordar a questão da produção de linguagem em relação dialógica com a cibercultura. Mais precisamente, buscamos analisar como se torna possível o processo de formações de autores no território da escola, este provocado pelas novas técnicas de linguagem multifuncionais presentes e doravante no ciberespaço. Seria essa uma nova empreitada da escola formar autores? Em quais conjunturas? É neste caminho que seguiremos ao pesquisar apontamentos teóricos que abarcam a temática e práticas possíveis, abrindo também as cortinas para os campos de possibilidade de atuação.
Além de alimentar um movimento cultural capitalista, voltado para uma sociedade de consumo, o pós-modernismo gera uma propagação mundial dos recursos midiáticos de comunicação em massa, propaganda, entretenimento, entre outros, estes imbricados com institucionalização de novos posicionamentos políticos e ideológicos do homem. A partir dessa premissa, nos encontramos constantemente questionandos se estamos realmente preparados para lidar com esse cenário sócio-cultural, cuja dinâmica vertiginosa, nos exige constantes movimentos direcionados à mutação de modos de ser para que, paraxodalmente, possamos nos adaptar ao mundo, gerando assim, inevitáveis conseqüências para as questões sócio-econômico-educativas.
Porém, os meios de comunicação vêm rompendo com o caráter clássico, e digamos, por muitas vezes, até perverso dos canais midiáticos emissores de informação em massa. Ao se dirigir por um viés mais aberto, permeando a produção dialógica e multidisciplinar na informação, a posição dos indivíduos – até então apenas receptores da informação fabricada, passa a ser menos passiva frente aos canais midiáticos.
Segundo Pierre Lèvy, a cibercultura passa a ser o principal conector social a partir do século XXI, desdobrando as redes de comunicação à sociabilidade, organização, produção e, principalmente à transação da informação e conhecimento no contexto das práticas interativas. A partir desse princípio, com a disseminação dessas novas técnologias, novos valores, idéias, atitudes vão se desenvolvendo juntamente uma nova esfera sócio-educativo-cultural.
Nesse caminho, a cibercultura ao se desenvolver, a partir de uma nova lógica comunicacional - que passa a ocupar o espaço da veiculação de informações em massa assume da passagem do computador pessoal para o computator coletivo, este multiconectado em redes à Intenet online ou ciberespaço.
O pesquisador sobre a temática André Lemos (2003), percebe que a a partir desse momento, o computador deixa de ser uma mídia autoritária, linear, individualista e adota um caráter efervescente, coletivo e democrático . Devido a este fato, eclode uma mudança de paradigmas da informação automativa (receptiva) para um universo que permite produzir, criar e trocar no meio cibernético. Diante disso, chegamos à nossa principal questão: se nascemos condenados a nos comunicar através da linguagem, como podemos refletir sobre a relação dinâmica entre indivíduo e linguagem, articulados com a noção de autoria num meio como a Internet?
Entusiastas asseveram que a função do autor é cada vez mais estimulada e propícia, pois a liberdade de expressão está mais possibilitada a ser circulada e enriquecida junto às novas tecnologias, já que no ciberespaço é possível circular informações e textos produzidos em escrita, oral, em formatos de vídeo, sonoros, entre outros, e principalmente, (re)modelando-se sempre em aspectos dinâmicos hipertextuais¹, tudo isso sem a interferência de um sistema editorial clássico. Logo, para além do paradigma artístico, novos conceitos tradicionais de valor, realidade e verdade estão sendo reformados.
Não obstante, apesar desse entusiasmo e todos os apectos dinâmicos, será o ciberepaço democrático o suficiente para permitir produção de discursos e idéias, a ponto de articular a produção e a interpretação dos enunciados de maneira satisfatória às relações humanas e, principalmente as práticas pedagógicas? Como perceber um processo autoral num meio tão desautorizado? Bakhtin coloca a questão da autoria de uma maneira bastante singular e importante para o seu conceito sobre o dialogismo da linguagem. O que provém do autor está situado fora de sua alma, não pertencendo exclusivamente a ele. Dessa forma, não há falante que tenha sido o primeiro a falar sobre um determinado tópico de seu discurso.
As reflexões do autor apontam que todo ato de linguagem e conhecimento são elementos instaurados de acordo com suas esferas sócio-históricas e por isso, são essencialmente dialógicos, uma vez que se utiliza a linguagem de forma interdiscursiva. Sob essa ótica, entendemos como dialogismo as relações discursivas que são estabelecidas historicamentes pelos sujeitos, visto que, há diferentes maneiras de articular e interpretar os enunciados de linguaguem de maneira mais satisfatória às diversas relações humanas, o que significa que há modos preferencias de gêneros de discurso a serem produzidos. Por isso, o mundo está em constante movimento e modificações perpétuas e em constante processo.
Portanto, por trás de cada texto está o sistema da linguagem. A esse sistema correspondem no texto tudo o que é repetido e reproduzido e tudo que pode ser repetido e reproduzido, tudo o que pode ser dado fora de tal texto(o dado). Concomitantemente, porém, cada texto(como enunciado) é algo individual, único e singular, e nisso reside todo o seu sentido(a sua intenção em prol da qual ele foi criado). É aquilo que nele tem relação com a verdade, com a bondade, com a beleza, com a história (BAKHTIN, 2003)
Conforme o filósofo, existem muitas formas de linguagem. Isso ocorre devido à diversidade da experiência social, isto é, à presença de elementos extralingüísticos ligados ao fluxo de produção verbal que imprimem à linguagem um caráter de produto não acabado, vivo, em constante mutação, de acordo com o contexto em que é utilizada. Dá-se, assim, a interação verbal que constitui a realidade da língua. Há que analisar a entonação, o realismo, o humor, entre outros elementos, para formular uma teoria da linguagem adequada à realidade da interação verbal. Os enunciados construídos a partir da interação verbal exprimem e realimentam a ideologia do cotidiano, que se expressa através de nossos atos, gestos ou palavras, refletindo na cristalização dos sistemas ideológicos. Assim, a concretização da palavra como signo ideológico aconteceria no fluxo da interação verbal, transformando-se ou ganhando novos significados dependendo do contexto em que surge a palavra.
Podemos entender que a dinamicidade social através dos tempos provoca as mudanças de significado de um determinado signo ideológico. As transformações culturais, históricas, sociais e políticas, ou seja, a fluidez da superestrutura interfere diretamente na constituição do signo ideológico. O que hoje, para nós, constitui um signo ideológico, para as futuras gerações pode não passar de fatos estudados nos livros de história. A estreita ligação de Bakhtin com as idéias marxistas faz com que suas teorias tenham sempre o olhar voltado às questões sócio-ideológicas. Para o filósofo, as relações de produção e a estrutura sócio-política determinam os processos de interação que ocorrem na sociedade como um todo e principalmente no ambiente escolar, formador do pensamento crítico e da consciência de cidadania de um povo (In: Jobim e Souza, 1994).
A filosofia bakhtiniana valoriza o processo de interação que acontece dentro de determinadas condições, sob determinadas formas e tipos de comunicação verbal. Assim, a palavra assume um papel de suma importância dentro do processo interacionista, pois ao mesmo tempo em que parte de alguém é dirigida para alguém, funcionando como uma ponte entre locutor e interlocutor. É no fluxo da interação verbal que a palavra se concretiza como signo ideológico, que se transforma e ganha diferentes significados, de acordo com o contexto em que ela surge. (...) o diálogo se revela como forma de ligação entre a linguagem e a vida. (Jobim e Souza, 1994, p. 120).
Bakhtin, em suas teorias, já percebia como o processo de interação verbal é importante para o desenvolvimento das relações humanas, principalmente nas relações de ensino-aprendizagem. Assevera que a diversidade de linguagens funciona como enunciados que farão a ponte necessária para o processo de interação social. “Todo itinerário que leva a atividade mental (conteúdo a exprimir) à sua objetivação externa(enunciação) situa-se completamente em território social” (In: Jobim e Souza, 1994, p. 113).
A escola é, por natureza, meio formador e/ou cristalizador de ideologias e não se pode usá-la como órgão disseminador de ideologias prontas e que atendam aos interesses de uma minoria. Há, sim, a necessidade de possibilitar meios para que haja uma tomada de consciência da realidade histórica dos fatos que são ensinados. Para Bakhtin, o grau de consciência, de clareza e de acabamento formal da atividade mental é estreitamente ligado ao seu grau de orientação social.
Assim, quanto mais forte, mais bem organizada e diferenciada for a coletividade no interior da qual o indivíduo se orienta, mais distinto e complexo será seu mundo interior. (...) a simples tomada de consciência, mesmo que confusa, de uma sensação qualquer, (...) pode dispensar uma expressão externa, mas não dispensa uma expressão ideológica. (Jobim e Souza, 1994, p. 114).
Portanto, à essa instituição cabe a tarefa de utilizar-se da linguagem oral nas diversas situações comunicativas (formais, cotidianas, seminários, etc.), para que as atividades em sala com a gramática, por exemplo, façam sentido, para que o aluno saiba que o objeto de estudo é aplicável ao mundo real. Bakhtin sustenta que a separação da linguagem do seu conteúdo ideológico ou vivencial constitui um dos erros mais grosseiros da lingüística formalista. Existem sempre modos diferentes de falar, muitas linguagens refletindo a diversidade da experiência social.
Tendo em vista a questão da linguagem e autoria na Internet e considerando que ferramentas disponibilizadas no espaço web permitem a execução do famoso “copiar e colar”, ou seja, reescrever textos cuja autoria a priori não necessariamente fora discriminada, já que dentro desses dispositivos também existe a possibilidade de apagar, fragmentar textos, assujeitando a autoridade de seu criador, resultando no plágio, imitação de forma desautorizada/indevida – tanto que existem diversas discussões sobre a questão da vulnerabilidade e volaticidade dos direitos autorais nos espaços virtuais. Sendo assim, além de autores multidisciplinares a web estaria produzindo copiadores de um novo gênero discursivo?
Assim ao fazermos esta indagação, devemos pensar as questões das implicações da escola com os gêneros digitais no processo de formação autoral e seus impactos nas práticas cotidianas nesse território tão importante. E como tornar praticável o exercício de formar autores em sala de aula? Haja vista que a sala de aula tradicional se consuma como espaço de relações dialógicas de aprendizado e a escrita na escola clássica sempre permeou-se na cultura manuscrita e impressa, em práticas como a cópia do quadro negro, textos e exercícios, pesquisas em enciclopédias, dos livros didáticos e apostilas para as exames.
Diante desses acontecimentos, o surgimento da comunicação digital provoca simultaneamente uma projeção dessas práticas e até certa desestabilidade na relação de poder/saber entre alunos e professores. Sob essa luz, é preocupante a questão da mudança do papel do educador, que até então se encontrava como tutor e transmissor da informação e portanto, dos enunciados produtores de sentido, e agora se encontra sucumbido à uma nova geração que não responde mais ao aprendizado linear, monótono e passivo.
Todavia, as novas tecnologias da informação que atravessam incessantemente nosso dia a dia, já há um bom tempo não são ignoradas pelos programas educacionais, como apontam abaixo, à necessidade de tomarem ciência da relevância dessas novas práticas no território escolar e para além deste, que ainda assim afetam o cotidano escolar e as aprendizagem. O programa (PCNEM), mesmo que de forma muito incipiente, já que foi desenvolvido há 10 anos, destaca a relevância do impacto da cibercutura no currículo escolar e citam a importância da inclusão digital no contexto pedagógico:
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(...) Entender o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida, nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento e na vida social (PCNEM, 2000, p. 12).
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“(...) Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para a sua vida” ( _, p. 13).
Referências Bibliográficas:
LEMOS , André; Cunha, Paulo (orgs). Olhares sobre a Cibercultura . Sulina, Porto Alegre, 2003; p. 11-23
BRASIL, LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm>. Acessada em 20/11/2008.
BRASIL. PCNEM-Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio, Parte II – Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, MEC/SEB, 2000.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 9.ed. São Paulo: Hucitec, 1999.
BAKHTIN, Mikahil. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. Tradução feita a partir do francês: Maria Ermantina Galvão G.Pereira. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997c 1952-1953, p.277-326.
. Os gêneros do discurso. In: __. Estética da criação verbal.
Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra; prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p. 261-306.
JOBIN e Souza, Solange. Infância e linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamim. Campinas: Papirus, 1994. (Coleção Magistério, formação e trabalho)
LEVY, P. Cibercultura. São Paulo (1999) : Ed. 34. Disponível em http://books.google.com.br/books?hl=pt BR&lr=&id=[[7L29Np0d2YcC]]&oi=fnd&pg=PA11&dq=LEVY,+P.+%281999%29:+Cibercultura.+S%C3%A3o+Paulo:&ots=ggYuyGSweo&sig=[[FYycXhq1Qf27BM1F33OaoX6yn3c#v]]=onepage&q&f=false acessado em 2010
1. Reproduzir, recortar, subtrair palavras, frases, imagens