Lendo “A Interpretação da Imagem: subsídios para o ensino de arte” de Terezinha Losada

Minhas impressões em itálico.

Prefácio de Ana Mae Barbosa
“Sempre condenei e combati a prepotência do professor universitário em determinar um único caminho ou sistema de leitura da obra de Arte para seus alunos seguirem, ou impor este ou aquele sistema a professores secundários através de cartilhas que acompanham pacotes de reproduções de obras de arte para serem usadas nas escolas fundamental e média.
Eu lançava mão da Estética Empírica para trabalhar com meus alunos por ser um sistema aberto a pessoalidade e subjetividade, mas apontava outros métodos e meios, como a Semiótica, a Gestalt, assim como autores que poderiam oferecer diferentes caminhos.
Sentia falta, entretanto, de um livro que mostrasse um leque de tendências decifradoras da Arte, da Cultura Material ou Imagem em geral. Seu livro é exatamente o que precisávamos para garantir a pluralidade de abordagens de leitura da imagem na preparação de professores de Arte e a seletividade consciente dos alunos por caminhos pedagógicos.”

Nilda Alves defende firmemente que a imagem não é palavra, portanto, não se lê uma imagem. Mas, o que ela pensa sobre interpretar uma imagem? Porém aqui a discussão de Ana Mae perpassa muito mais na busca por diversos modos, métodos e meios de interpretar a imagem. E é exatamente o que Losada pretende fazer nesse livro.



INTRODUÇÃO

Primeira parte: conceito de interpretação

:: oposição entre experiência sensorial x conhecimento racional
:: pressupostos da Semiótica de Peirce, da Psicologia da representação de Gombrich, entre outros

Segunda e terceira parte: oficinas pedagógicas

> Olhar sincrônico – teorias da linguagem (Peirce e Jakobson) > aplicados para interpretar todo o tipo de imagem, enfase na recepção.
> Olhar diacrônico – prioriza o eixo da emissão, características do desenvolvimento histórico da arte ocidental hegemônica (Gombrich, Wölffin,Ostrower, Hauser e Arendt)

PARTE 1
O que é interpretação para autora:
termo relacionado ao ato de determinar ou deduzir significados de algo, de dar sentido, entender, julgar (Houaiss)

A interpretação está profundamente relacionada ao conhecimentodesde suas formas mais simples até mais complexas e especializadas.”

Essas diversas formas de conhecer (ou seja, de interpretar o mundo) são umas das teorias estéticas, bem como das teorias da linguagem”

Sempre nas minhas pesquisas de arte, prioritariamente quando estudava as formas, as cores e a luz, percebia o quanto isso influi diretamente, senão é um dos princípios, nas nossas formas de conhecer. As questões que a autora aqui trás, mais do que a preocupação com o termo interpretar, mas a relação entre estética e conhecimento é que me atraem.

1- Teorias estéticas: o paradoxo entre razão e sensibilidade

- A experiência sensorial (sensível ou estética), na tradição ocidental, sempre esteve relacionada com a criação de conhecimento científico ou político. "A maioria das teorias estéticas é derivação dessas discussões filosóficas e nelas se inscrevem como contraponto negativo.

- de modo geral o locus do conhecimento e da verdade é atribuído à filosofia ou ciência.



E às artes:

:: prática política (como civilizatória e moralizadora)

:: desconfiança (transgressora)



Será assim nas 

- filosofias de Platão e Aristóteles: associação do belo à verdade e ao bem

- vão influenciar a Idade Média e Renascença e, profundamente, os dias de hoje.



- No séc. XVIII, por Baugarten, a estética passa a ser um campo específico da filosofia dirigido ao estudo da experiência sensível e artística.



Platão e Aristóteles

Platão:

- a "essência" verdadeira do homem e do cosmos só é alcançada pela ideia.

- mito da caverna  (metáfora para expor esse conceitos): 

> de um lado o fogo que ilumina a verdade das essências

> de outro escravos acorrentados no interior escuro da caverna, tomando a aparência distorcida e fantasmagórica das sombras projetadas pela luz como se fosse a realidade.

> a luz é o mundo abstrato das ideias, das essências.

> a caverna é o mundo concreto dos fenômenos, do homem acorrentado às opiniões, aos afetos, ao senso comum e às diferentes visões de mundo - todos aspectos que se rivalizam à aspiração de um conhecimento rigoroso, universal e absoluto como aqueles pretendidos pela filosofia ou, a partir da era moderna, pelas teorias científicas.



Quando estudei o mito da caverna, na faculdade de fotografia, li uma interpretação um pouco distinta, mas que não deixa de dialogar com essa que é muito mais pertinente. Lembro que tal mito evoca para nós uma cautela de sempre buscar aquilo que existe de pano de fundo nas coisas da vida. Lembro que o texto que eu li fazia referência à televisão. Como aquilo que os acorrentados assistem fosse a projeção da televisão. Essa interpretação dá margens para outras questões e deixa muitas sem resposta... por exemplo, se a imagem projetada é a da tv... o que seria o fogo e a vida lá fora?

A referência aos gregos, como Platão, sempre me causa um transtorno físico mesmo. Se compreendermos todo o contexto dos filósofos, percebemos que a democracia já nasceu num ambiente de hipocrisia. Ressaltar tal ambiente como algo válido ainda para os dias de hoje, para mim, é reforçar ainda mais as contradições políticas, econômicas atuais. Portanto, tenho gostado do enfoque a Losada tem dado para esse assunto tão relevante de ser tratado, quanto analisado por outros vieses que não a sublimação.

Por tudo isso e mais um pouco sinto falta dos estudos na parte oriental do planeta nesse mesmo período ou anterior. Ou mesmo, os sofistas.

Platão dicotomiza:

- inteligível x sensível

- Razão, o conhecimento, Logos x sensibilidade, prazer, gozo

- "Temos em Platão a origem de todas as posteriores teorias filosóficas fundamentadas na ideia (idealismo) e na razão (racionalismo)."

A estética de Platão

- para ele, as artes são atividades inferiores e até danosas ao espírito e deveriam ser proscritas da "cidade ideal" concebida na obra República.

recusa o princípio da imitação, talvez por isso a recusa pelas artes, para ele, a a pintura seria a forma mais degradada de imitação.



Aristóteles:

- discípulo rebelde de Platão, rejeita a cisão dos mundos do mestre

- para ele, o conhecimento é construído gradativamente a partir de impressões sensoriais até alcançar a abstração das ideias

- a imitação: inferior aos processos cognitivos racionais de reflexão & modo cognitivo elementar, como uma forma natural e salutar da aprendizagem

- "Desse modo, podem ser associadas a Aristóteles todas as teorias que relacionam o conhecimento à observação do mundo empírico (empirismo)"

-Para ele: 

> a arte: representação sensível do mundo; não alcançam a verdade dos conceitos filosóficos; mérito de cumprir finalidades morais; representa a diferença entre o bem e o mal; mostra grandes fatos heroicos; pode educar a partir de exemplos negativos, representando o feio e o grotesco, como na comédia, ou purgando as paixões extremadas por meioda "catarse" provocada pela tragédia.

> a tragédia permite viver de forma fictícia

> a catarse autorizaria então uma espécie de desrecalque e desempenharia um papel de exutório. 


Concluindo: ambos filósofos tratam da arte como distante do real e como recurso pedagógico, moral e político. Fragmentam portanto razão e sensibilidade.


'As marcas dessa "história de separação" serão brevemente discutidas no racionalismo clássico, no Iluminismo, nas filosofias de Kant e Hevel e nas tendências filosóficas e artísticas do séc XX"


RACIONALISMO CLÁSSICO:


Racionalista como Platão, Descartes considera o conhecimento oriundo da.experiência sensível enganoso.

Para Chauí, para Descartes "o conhecimento verdadeiro é puramente intelectual, parte das ideias inatas e controla (por meio de regras) as investigações filosóficas, científicas e técnicas".



(continua...)


Last modified: Wednesday, 21 May 2014, 5:28 PM