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O trabalho

Re: O trabalho

por Julio Roitberg -
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Então, voltando ao Moodle, aqui vai, novamente, a foto selecionada registrando o livro do Mia Couto e um trecho destacado do livro seguido de meus comentários.

Com panhia das Letras, 2011.

Sons, movimentos e outras cores

Ou Para ser sonhável...

Eu já havia começado a leitura do livro do Mia Couto e resolvi levar pra ler durante a “viagem” até o meu trabalho.

Enquanto lia, repensava o texto “Narrações além dos cotidianos”, sobre os códigos que nos fogem à compreensão, que escrevi no dia 29/01/2013

A barca chegou a Niterói e, enquanto esperava esvaziar um pouquinho, pra descer com tranquilidade, olhei novamente para o cais. Eu gosto muito de viajar, em pé, no segundo pavimento, olhando a baía. Pena que a travessia seja tão breve... Guardadas as enormes diferenças, não sei exatamente o porquê. Mas aproximei aquele momento a esta passagem:

“Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. Não sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável” (Couto, 2013, p. 14-15).

Há muito tenho trabalhado longe de minha casa. Talvez mais pelo gosto que pela necessidade... Até o ano de 2005, eu ainda dava aulas em Mambucaba, quase pertinho de Paraty, último bairro de Angra dos Reis. E isto, morando em Sepetiba, extremo Oeste do Rio!!! Afinal, “o que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. (Couto, 2012: p. 13)

Trabalho no outro lado da baía, o que me facilita esta viagem maravilhosa de barca, até Niterói, cuja emoção já começa na estação da

, principalmente, porque, antes mesmo de toda a tripulação desembarcar, a gente, subindo a rampa, começa a entrar pelas laterais.

São outras sensibilidades: o cheiro do mar, o grito das gaivotas, durante a travessia o que me tenta filmar bastante, o me permite reflexões diversas, quando vejo o que fiz.

, (17/12/2012) enquanto curtia a brisa, vindo do Rio pra Niterói, tentei, da proa de uma antiga barca, prender o som do vento, assim como, no dia 30/10/2012, ainda necessária: é que estas barcas antigas só tem uma cabine de comando obrigando o comandante a manobrar a embarcação.

São os meus sonhos que impulsionam o meu barco. Desde a minha infância. Às vezes, adulto, para não me permitir duvidar da realização dos mesmos, finjo-os utópicos. Mas, que na verdade, são apenas sonhos... com a possibilidade da realização face ao imponderável.

O barulho dos ferros e os sons das cordas de amarração, as ondas no cais, como nos minutos finais de uma viagem feita no dia 17/10/2012, misturados aos movimentos, às formas e as cores, fazem do burburinho dos passageiros, sons incidentais. Viajo para ser sonhável... (Roitberg, 4/3/12)
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