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3 - Elementos de concepção da Produção em Multimidia

3.3 - Elementos envolvidos na interação e na construção áudio visual dos sentidos

Qual a relação entre o Som e a Imagem? O Som é Imagem? Quando inventaram a televisão muitos acreditavam no fim do rádio! Antes mesmo dessa discussão, no surgimento da tecnologia sonora para o cinema, os cineastas russos Eisenstein, Pudovkin e Alexandrof, assinaram um manifesto conhecido como o “Manifesto do Som”, onde “condenam o cinema sonoro, afirmam a importância de se aprimorarem as técnicas de montagem e enfatizam que a linguagem das imagens, no cinema mudo, seria Universal, sem necessidade de tradução” (Hertz).

No artigo intitulado Linguagem cinematográfica: Concurso de Inteligência ou Experiências Sinestésicas?, Belleboni (2008) observa que Arlindo Machado afirma em seu livro Pré-cinema Pós-cinemas que há outra maneira de contar a história do cinema – a partir de Thomas Edison (1877):

“a primeira ideia de Edison foi criar bonecos falantes, pela incorporação do fonógrafo ao interior do corpo” (Machado: 1997, p.154). Assim, iniciar pelo cinematógrafo dos irmãos Lumière (1895) seria desconsiderar o fonógrafo que já experimentava, mesmo sem êxito, a integração entre imagens e sons. Começar pelo fonógrafo – toca discos – nos permitiria rever a história do cinema e refletir sobre as teorias que o compreendem como uma arte essencialmente visual.

Os profissionais que trabalham em produções audiovisuais estão bem familiarizados com um histórico e frequente confronto onde a imagem é considerada mais importante que som! No cinema mudo a música funcionava apenas como um fundo sonoro aleatório, sem nenhuma conexão com as imagens, ou com a narrativa. Com o surgimento do cinema sonoro o som passou a interagir gradualmente com a imagem em diversos níveis de importância. O som passou de um mero acessório e suporte óbvio do que se passava na tela, ao status de protagonista ou elemento fundamental na construção da dimensão subjetiva da narrativa. Basta assistir aos filmes de animação para perceber como os efeitos sonoros, a música e todo o projeto de Sound Designer (desenhista de som) são fundamentais para dar credibilidade, identidade e emoção aos personagens, em seus respectivos mundos virtuais. No cinema e na animação a produção sonora e musical nos leva a acreditar e a nos emocionar com cenas, ações e atuações que contrariam todas as leis da física! Como não diz o ditado: É preciso ouvir para crer! O que os olhos não veem o coração escuta!

A partir da década de 70 um editor de filmes chamado Walter Murch revolucionou a produção sonora no cinema. Em seu artigo Belleboni (2008) afirma que:

Mesmo diante de todas essas inovações, foi em Apocalypse Now (1979) que chegou ao apogeu do uso narrativo do som cinematográfico, pois a trilha de ruídos ambientais declara-se com um caráter absolutamente não-naturalista. Como exemplos citamos os sons ambientais que passaram para a primeira pessoa da narrativa, expressando os estados emocionais e a exteriorização em sons dos estados emocionais e subconscientes dessas personagens. Essa prática desencadeou em uma maior proximidade entre o interlocutor e o filme, na medida em que estabelece códigos narrativos. Além disto, foi em Apocalypse Now que Murch gerou a terminologia desenhista de som – sound designer -, a quem foi designada a responsabilidade de toda a sonoridade da obra. (cf. MENDES: 1993). Essa mudança na equipe de produção é importante, na medida em que expressa uma preocupação técnica com o todo sonoro da obra, o que antes não ocorria.

O som e a música são imagéticos. Quando ouvimos uma novela no rádio ou uma narrativa, com efeitos sonoros ou com uma produção musical, hora pontuando o texto hora substituindo a própria fala, somos provocados e induzidos a Universos e dimensões imaginárias. O som, tanto da voz quanto dos efeitos e da música, quando bem integrados e interativos, estimulam e estabelecem com o ouvinte uma coautoria. Quem ouve se apropria do som como matéria prima para construir sua própria história, seu próprio roteiro, seu próprio filme. Rodrigues (2006, p.53) observa que “a linguística já demonstrou que o som como tal, como fenômeno físico, não tem nada que ver com as formas sígnicas que podem ser construídas com ele como substância modelável. Ensinou-nos também que uma coisa é o falante como um ser capaz de produzir som outra muito diferente é a fala como som estruturado”.