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    Meu trajeto até aqui...

    Minha paixão pela Educação se manifestou cedo, e ainda adolescente optei por ingressar no curso normal de formação de professores, convicta de que o magistério era a carreira que queria trilhar. Sempre muito ativa, freqüentei diversos cursos extracurriculares, prestei trabalhos voluntários, atuei como recreadora, locutora de rádio comunitária, professora de reforço escolar, professora de educação infantil, além de diversas outras atividades.

    Foi nessa época que conheci um grupo de adolescentes surdos, e, no convívio dessa amizade, fui aprendendo a Língua de Sinais. Certamente não imaginava as proporções que este aprendizado tomaria em minha vida. Passei a integrar a Associação de Surdos local e atuar como intérprete.

    No ano de 2001 interrompi os estudos para dedicar-me integralmente ao trabalho voluntário, junto com grupos de jovens de diversas nacionalidades em Belo Horizonte – MG, oportunidade que enriqueceu ainda mais meu capital cultural, além de oportunizar o contato com pessoas surdas de outras localidades e realidades sociais, fato que começou a gerar inquietações e questionamentos sobre questões sociais e educacionais das pessoas surdas, e me levou a estudar a literatura sobre o tema.

    Em 2003 retornei à minha cidade e concluí o curso normal. Recém formada e noiva de um carioca, prestei concurso para professor do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e tive o prazer de ser aprovada. Em 2004, então, mudei-me para a cidade do Rio de Janeiro e pude associar o trabalho formal com minha paixão pelas questões da surdez.

    Para mim, estar no INES – referência nacional na educação de surdos – era realizar um grande sonho. Ali tive oportunidade de trabalhar no CAAF, setor que atende crianças com múltiplas deficiências. A experiência com crianças surdo-cegas, que não dominavam uma língua, fez aumentar ainda mais meu interesse pelas questões que envolvem o desenvolvimento da linguagem e da cognição.

    Entre os diferentes temas de estudo que tenho me dedicado em minha formação como professora-pesquisadora, as questões que envolvem as relações entre Linguagem e Cognição são os que mais me fascinam e comovem para pesquisa. Nesse sentido, o trabalho com crianças surdas contribui substancialmente gerando ainda mais indagações e me motivando na defesa de práticas educativas bilíngües – Língua de Sinais / Língua Portuguesa.

    Em 2005 ingressei no curso de Pedagogia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e fui procurar mais respostas. Na Universidade descobri que essa atitude tinha um nome: PESQUISA e, desde então, não parei de fazer perguntas e procurar respostas. Neste movimento fui produzindo pequenos trabalhos acadêmicos, e procurei encaminhar alguns trabalhos para eventos acadêmicos e cursar disciplinas extras na área da Linguística, dentre outras.

    Em 2006 passei a trabalhar no Ensino Fundamental do INES com uma turma da antiga 4ª série. Como se pode imaginar, novas experiências, novas perguntas e mais busca por respostas.

    Em 2007 obtive meu certificado de Proficiência em LIBRAS (PROLIBRAS). Nesse ano cursei ainda o Programa de Formação em Alfabetização Plena, que me permitiu aprender mais profundamente sobre as teorias de trabalho baseadas na Psicogênese da Língua Escrita.

    No ano seguinte prossegui com meus estudos e tive a oportunidade de atuar como monitora-voluntária da disciplina LIBRAS na UERJ, auxiliando o trabalho do professor surdo. Escrevi minha monografia “Linguagem, Surdez e Educação Infantil”. O trabalho abordou aspectos atuais da Educação Infantil, o papel da linguagem no desenvolvimento cognitivo e defendeu o ensino precoce da Língua de Sinais.

    Concluída a graduação, ingressei no curso de Especialização em Educação Infantil da Pontifícia Universidade Católica – PUC/Rio. Ao fim do primeiro semestre, recebi o convite para lecionar LIBRAS em uma faculdade privada. Desejosa por trilhar a carreira docente do ensino superior, mas diante da incompatibilidade de horários, precisei deixar de cursar a pós-graduação presencial. Tendo então a oportunidade de fazer o curso, à distância, de Especialização em Educação Especial da UNIRIO optei por este e tranquei o da PUC.

    Desde o início do meu contato com as discussões teóricas e práticas sobre Educação de Surdos, ensino de Segunda Língua e Inclusão, observei a grande dificuldade enfrentada para se alcançar um ensino de qualidade. Mas até então, meus estudos estavam concentrados no que se refere ao acesso à Educação Básica, aquisição precoce da Língua de Sinais e o aprendizado da língua escrita. Até me deparar com outra realidade: a falta de acesso aos níveis mais avançados de educação.

    Depois de vencidas todas as dificuldades iniciais de inclusão escolar da pessoa surda, já tendo esta adquirido a Língua de Sinais e tendo alcançado uma boa competência em leitura, o acesso aos cursos de Graduação – e Pós Graduação – são extremamente limitados, não obstante a legislação brasileira tente reverter esse quadro.

    Ao ingressar no curso de Especialização em Educação Especial, vivenciei a experiência de realizar um curso a distância sobre surdez, mas sem garantir acessibilidade adequada para pessoas surdas. O curso foi oferecido pelo consórcio UAB/UNIRIO, tinha seu foco em três deficiências – dentre elas a surdez – e contou com alguns alunos Surdos, que receberam apoio de tradutor-intérprete em LIBRAS apenas nos encontros presenciais. Com muito esforço pessoal e apoio extra-institucional, alguns desses alunos Surdos puderam concluir sua especialização. Entretanto, aqueles que não tiveram recursos próprios para tal feito, foram reprovados ou abandonaram o curso.

    Como em outros momentos, os caminhos trilhados em minha trajetória acadêmica e profissional perpassam os rumos da minha vida pessoal, e dessa experiência encontrei o que viria a ser o foco de minha pesquisa: acessibilidade em cursos a distância para pessoas surdas.


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